Sentidos
Não há esforço além dos brônquios
A vida é leve como a lufada
Que sai do peito e sobe quente
A vida sobe quente
Respira a vida que sobe
Tato além das mãos
Que tocam as paredes macias
Cercas macias delimitam o tato
A vida é tato macio
A vida tateia e se limita
Não há sons além das orelhas
Onde reverberam as músicas diárias
Diuturna trilha de gritos, sussurros
E ruídos de cordas e couro
Vida é música áspera
Passo a língua na língua da vida
Sinto a saliva seca
Sabor de mim na saliva da vida
Vida é sabor de si e mim
Nas papilas que se saboreiam
Olho longe e vejo a curva
Vejo além da curva e do morro
É viela sinuosa
A vida é via de só ida
Larga, estreita reta e curva
Não há outro cheiro
Tudo cheira a vida que queira
Cheiro de vida mesma
A vida tem cheiro de tudo
Quando acaba o cheiro...
©Marcos Pontes