segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ancestral

Tua vida chega antes do meu sentido
Vago fundo no leito da tua história, minha sina.
Retiro meu olhar do teu
E vejo o olhar dele em ti.

Num mundo sem letras – a miragem
Brilha, o nome de teu pai.
Vejo minha senha,
Tua carne é minha travessia
Entre o-que-é e o-que-não-é. Ele!

Eis o teu amigo. Pele, cor e fogo.
Meu caboclo do pescoço grosso!
Tua coragem é meu sorriso.
Abro e fecho tuas cortinas.
Minha pálpebra é teu abrigo.

Tateio meu amanhã na tua fronteira
– memória e esquecimento.
Voltamos nossas costas para o futuro.
Meu medo vibra.
Tua mão possui a minha no real da terra-a-terra
Caminhamos para o começo.
Hesito no vento.
Teu calor movimenta meu ar, nossa tarde estremece
Sob as bênçãos do teu passado.

E a razão vacila.

Se agarro teu chão, tropeço no meu enigma
Aninhado na ilha arcaica, solo rústico dos meus xamãs.

Meu culto é teu mito
Esticado na linha da ancestral materna ,
Minha avó e sua filha, minha mãe, desatam o nó.

Sou da terra que fizeste tua no vigor da juventude
Nas ruas da tua Canaã, sou a estranha
Destas roças onde laças nós dois que nos sabemos sós.
Ele nos vela.

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