quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sem pressa nem tempo




Sem pressa nem tempo,
Espero o calor lamber as horas
Que passam em delícias,
Enquanto morre uma tarde
Uma boca engole o dia,
Morde meu juízo.

Sem dor nem pressa,
A manhã nasce à força do fundo do relógio ávido de desejos,
Por onde escorre o susto. E o risco arrepia
Grafite de musgo no muro da têmpora.

Sem tempo nem dor
Pulsa um rastro de eco – escuro do meu grito.
No paço de lembranças, desmaiam retratos ao vento
Desmanchando em migalhas o museu ultrapassado,
Quando a ponta de um trovão explode a vida em cheiro
E sabores nítidos.

Sem dor nem cansaço,
No sinal vermelho, uma esquina pára.
Corpos tomam o fôlego das narinas tesas
Pelo ar que roça de leve inteiro o dorso dessa busca sem descanso.

Sem drama nem medo,
No quebra-mar dos olhos batem sopros. E voltam cantos.
Na minha garganta, uma sereia desliza
No sal da saliva sumo e gosto da pele e mais.
Um gesto solta o centauro.

Luli e Lucina - Amor de Mulher


Imagem: My Bed, Tracey Emin, 1998

Compulsão Diária, outubro de 2008.
Para Guto Leite
(grande amigo, tremendo poeta e mestre generoso)

Não sei se foi



Não sei se foi o soco do piso
Na retina o ar tremeu de calor

Não sei se foi o prazer perto de mais
Medo do frio dos museus pós-modernos

Não sei se foi o desespero
Do mais gozar - frenesi - do mais comprar

Não sei se foi o reflexo dos passantes
Em feitiço na vitrina, eram fantasmas

Não sei se foi a lembrança da tradição
Do hospital desmembrado nas três esquinas

Não sei se foi a visão do quarto
Era ela quase morta no dia da passeata

Não sei se foi esse começo de verão na primavera
A felicidade da menina distante, a mulher bailarina

Não sei foi a lama na campanha
Os dois candidatos empalados nos postes do preconceito

Não sei se foi a decadência da avenida
A falta da falta daqueles que faltaram

Não sei se foi agora que eles são peso morto
Presença da ausência inesperada

Não sei se foi esse adeus na ponta da língua.

Foi o tronco marrom sob a sombrinha
O olhar no sorriso daquele toco
Foi a dor peregrina sem membros
Foi a boca e a sede do menino-torso
Foi a letra na caixa de sapatos
Daquele texto triste
Pedido de amor - muito mais ato
Menos esmola, um nada de pena
Agora sei, foi o mesmo descaso.

Ele e eu amputados
Foi ele sem movimento
Minha mão sem gesto
Foram saudades súbitas
Dos horrores destas ruas
Deste vazio nas sarjetas
Dos excessos desta minha cidade.

Compulsão Diária, outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Efêmero



Este poema foi editado com arte e generosidade de Thiers, meu poeta e grande amigo. Ferinha, minha!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Antes, depois, agora e sempre



Eu sempre te quis
Antes de saber de mim
Das coisas minhas que tenho em ti

Essa ternura em carne viva
Do teu coração onde minha lua gira
Na tua sorte que me pega e convida

Para que minhas manhãs comecem nas tuas
E as tardes tuas e minhas
Caiam em nossa noite única

Eu sempre te quis
Depois de saber de ti,
Das coisas tuas que tens em mim

Esse desejo de amor de alma
Do meu corpo onde tua pele fica
Na minha sina que te segue e avisa

É teu meu presente que chega
Na rua da casa da tua esquina
Que fizemos minha e tua

Eu te quero agora
Mais ainda, por saber nossas
As coisas de cada um

Eu te quero sempre meu
Para que me faças tua
Sem deixar de sermos dois

*Imagem:Barbara Krueger, Power Pleasure Desire Disgust, 1997 Deitch Projects, New York

domingo, 12 de outubro de 2008

Lançamento D'Acolá - Livro de Marcos Pontes



Local: Boteco do Ferraz
às 19 horas
Esquina da Rua Mário Ferraz com Rua Tabapuã - Itaim Bibi

O livro D'Acolá, de Marcos Pontes, reúne um conjunto de contos, ou narrativas curtas, caracterizados por fina ironia e crítica a valores muito característicos de nosso tempo. O autor localiza seus personagens, de distintas origens e idades, nas mais diferentes cidades e regiões do país, como a compor um quadro nacional, embora a maior parte dos conflitos possa ocorrer a qualquer indivíduo em qualquer lugar.