quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O homem é mil

No semblante

A lua pálida

Nas mãos

O oceano

Reflete-se em si

Vira mundo

Entre as faces e as mãos

Faz-se universo

“O homem é mil”

Sendo só

O homem é uno

Sendo tantos

Nos pés de lajedo

O pisar forte

O suor da labuta

Irriga e verdeja

O homem é seu mundo

Enclausurado em si

domingo, 21 de novembro de 2010

Norte e Sul

Eu estudo física
Ela faz teologia
Eu amasso o pão
Ela cuida do jardim
No mercado faço as compras
Ela calibra os pneus
 
Norte e sul se cruzam
Na alcova e na varanda
 
Ela conserta o telhado
Cirzo as meias de nós dois
Ela cuida dos gatos
Faço chá para as visitas
Ela engraxa os sapatos
Arrumo a cama de manhã
 
Preto e branca se mesclam
Na mestiçagem do casal
 
Ela arrasta os móveis
Eu varro sob o sofá
Ela me leva ao doutor
Faço curativo no seu dedo
Ela mata as baratas
Grito com medo de aranha
 
Macho e fêmea se entrelaçam
No novelo de nos dois
 
 
©Marcos Pontes

Ir e vir

 

Navegar nas vagas da memória

Sentir os gostos da infância

Sabores perdidos

Redivivos gostos doces

Águas

Rios, bicas e chuva

O cheiro ainda presente a cada garoa

 

Circunavegar os anos

Em todos os sentidos,

Com todos os sentidos

Tatear o tempo macio

Segundos deslizados suaves

Traçando vias passadas

 

Viajar os rostos

Tantos olhos vistos

Apertar as mãos

Tantos corpos passados

Ferir os tímpanos

Na vozes e acordes idos

 

À frente estrada virgem

Uns dizem ter aberto picada

As narrativas imprecisas

Impelem ao desconhecido

E mais passado se faz

Cada dia maior do que o que virá

 

©Marcos Pontes