quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Tardes de Sabá



Cheiro de ervas nas tardes de sabá
Consagradas ao profano.
Sumo de maçã
No cálice sagrado
Ela metade criança, outro lado desejo
Ele - pleno - despeja anseios.
Dois cataventos e um rumo
Ancorados na paisagem do tempo.

 Santana - Samba pa Ti

domingo, 21 de setembro de 2008

Paratexto




Paratexto

A palavra alinha a letra
A letra lavra a língua
A língua age em fala
A fala fixa o signo
O tom sonoriza o significante
A sintaxe sintetiza o som
Forma a frase, traça a imagem
Faz do rastro o significado
E grafa a paisagem

Paratexto é limite entre os contornos do texto e o que o institui como obra.
Amelia, desafio à percepção visual do espectador com singulares efeitos luminosos, movimentos de câmera e coreografia plena, complementa o texto.

imagem:Regina Silveira, Caro Duchamp

sábado, 13 de setembro de 2008

A fragilidade é sua arma

A fragilidade é sua arma,
Mulher covarde! Trôpega, arrasta
Cordão de imposturas, compaixão seqüestrada
Violenta, finge ser quebrada e pende a cabeça ao lado
Entorta para esticar o laço.
Invejosa, elogia e cala para brilhar.
Exige segredo para fazer chantagem
Estraga o solo, erva danosa com seu não saber calculado.
Nada consegue, mas tudo tem.
Vive às custas da impostura perversa
Cava seu buraco: Vem cá! Estende a mão para o abismo de sua voracidade
Fera acuada simula estar morta.
Nega um copo de café enquanto engasga na fonte
Inútil, sabota projetos para roer seus restos.
Seu olho atira injustiça congelada
Escondida, revela a farsa sem querer.
O tempo - melhor amigo da verdade –
Casado com a entrega e a amizade armou o bote.
Arrancada de si mesma, faz máscara de choro aguado
Lágrimas de raiva contida escorrem abjeção
Força a piedade sem culpa. Esmola na careta de súplica.
E eu? Nem vejo mais o estertor desse bicho de nojo.
Troquei a fechadura, soltei as crianças presas em sua teia,
Lavei as paredes, replantei o jardim, salvei as duas flores mais limpas
E preparo a primavera.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sem Fim



No sem fim de mim
O poema, em queda, desaparece
Na boca desta manhã inquieta.
Minha poesia desafia teu rito,
Enquanto meu verso espera teu ritmo

No sem fim do texto
Tua prosa circula misteriosa,
Meu pensamento desconfia,
Tua palavra vaga na minha frase.
Depois, brilha na tua fala clara

No sem fim de nós
O tempo traça a fenda,
Rasga a vida e explode o dia
Dentro do eu que resta
Perto do tu que és meu

*Imagem: Richard Serra at MoMA - Band (2006)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Pontyiana



É o sol dentro de mim
No céu, é o vermelho
Carne do corpo e das coisas
Sentinela do sensível
Parto do ser bruto e do espírito selvagem
Visível dentro do invisível
A escrita quebra o silêncio
E o pensamento interroga o impensado
A cada plenitude, um vazio
No tapete tecido pela linguagem



Barnett Newman - Vir Heroicus Sublimis - 1950, Museum of Modern Art, NY