sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pedra e Flor






Nasceu da dureza
Delicadamente rósea
Nasceu no entre-pedras
Suavemente pétalas
Nasceu sem areia
Fluentemente leve
Nasceu quase pétrea
Etereamente vento
Nasceu uma flor
Rompendo o ar e a sílica.


©Marcos Pontes
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ave


Ave Solitária, upload feito originalmente por bocavermelha-l.b..


Incrustada na manhã azul

Ave de coração púrpura

Abarca o mundo com as asas

Leva ao ninho cada alma

Acalenta com as penas

O dia que nasce frio

 

Nas plumas negras guarda encanto

E sopra nas narinas diurnas

Sonoros mantras

 

Pelos cantos da cidade

Que amanhece

No tom suave do assum-preto

Aves Marias no bico

 

Das aves marinhas o grito

Os ais de nós

Acordados e em silêncio

Profundo dos olho assustados

Espreitando a manhã

 

O sol nasce

Do ovo do pássaro

Que carrega o dia nas garras

Para depositá-lo suave na noite

 

©Beatriz Mecozzi e Marcos Pontes

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ideal Fatal





Se ele a ama “de verdade”
Como dizem e ele também

Não creia
Ser você a beleza mais linda

Você é a amada. Sim
É a rainha

Real sem realeza

Vestida com a fantasia

Virada do avesso

Sem a magia da princesa ideal

Vire-se!

Simples assim




© Compulsão Diaria

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Babel Miau


mulher com gato no colo, upload feito originalmente por luarembepe.


Golden quente, o pôr-de-sol

Reflete mostarda,

Faísca mel, yellow soul


Frio é o desamparo

Árduo blue, neste final de tarde

Cool, busco abrigo,

Algum alívio flower

- Cinza rajada -


Na luz prata, ela me consola

Fada. Fate,

Invite me e mia meu destino

No tom


Silver Cat, minha gata vira-lata

Brilha carinhos abertos

On the road, treme

Faz ron-ron, no meu dedo

Finger zelo - bright light


Somos ela e eu, nuas em pelo

Ritual invisível

Spiritual carinho

É dom


Ambas no colo, calmas

Até o final somos,

Too much,

Duas night fellows

Aconchegantes


Santana - Black Magic Woman

©Compulsão Diária

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Viveu

Vazou dos olhos água morna

Varou a noite chuva grossa

Viveu de costas uma vida

Velou a morte com seu corpo

 

Ardeu na cama entre desejos

Andou descalço sobre vidros

Armou nas trilhas arapucas

Acabou os dias nas cadenas

 

Bebeu do sangue congelado

Bateu de frente no destino

Bailou sem pernas outra valsa

Bisou desgraças dia a dia

 

Mamou do leite sempre frio

Manteve fechadas suas portas

Minou de ódio seus amores

Morreu sozinho de si mesmo.

Matinal

Matinal

Canora manhã

No bico ensolarado

Do pássaro equilibrista

Nos fios de telefone

                Nuvens rastejam

                Espalhando-se entre árvores

                Postes e automóveis

                Imaculado cenário

Da janela do terceiro andar

A paisagem esparramada

Ocupa os olhos dos gatos,

Verdes olhos caçadores

Viajam nas asas do bem-te-vi,

Pousam no ninho desfiado

À caça da cria que pia fome

               Sob o toque quente do sol

              Cerração, penas, serras e gatos

              Acordam e mudam o dia.

Quatro Olhos

 

É rico o olhar seguro

Quatro olhos no mesmo rumo

Quatro pernas na mesma trilha

Vemos atrás do morro.

          Cúmplices entrelaçados

          Siameses do destino

          Não desviamos da rota

          Nos guiamos e seguimos

Nenhum é voto vencido

Há acordo e plano

Rumo decidido a dois

          Nada é de apenas um

          Tudo é tudo de verdade

          Uma gaveta, duas vidas

Chefes

 

É dos que nada dizem

Que se fartam os ouvidos

     Esses que nada falam

     Que perturbam o silêncio

          Os que nada pensam

          Resolvem os males mundanos

               Quem nada vê

               Assume o timão

                    Os que se perderam

                    Comandam a nave

À deriva em mar enrugado

Sem comando vagamos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Voraz

Quando a flor encharcada,

Farta de chuva,

Sob as patas dos gatos, espera

          Quando gotas pesadas,

          Túmidas de graça,

          Pousadas na vidraça, escorrem 

                     Quando o sonho,

                     Cheio do cheiro da noite,

                     No torpor da manhã, incauto, desperta

Quando a mulher,

Alva e ampla,

No deserto da cama, dorme e morde a maçã

Ele afaga pétalas, pele e pelúcias.

         Pisa sua dor nas gotas escorridas,

         Desperta delícias lúbricas,

          Liberta, das patas dos gatos, a flor

                        Enquanto desvela o sono da mulher,

                        Despedaça a cama, engole a maçã

                        E flerta, en passant, com a alvorada fatal

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mix Secret


Freedom
Originally uploaded by Aaron Michael Brown



A noite transpira
Gotas translúcidas
Na pele do quarto
- Janela íntima –
Dos corpos que fervem
O presente dele e dela

E aquecem passos tímidos,
Avançados pra trás,
Entre os verdes-esmeraldas e lembranças
-Mrs Robinson little secret-
De um tempo calmo
Quando os gatos críticos corriam roucos
No calor de assar tijolos e telhas

Ocres e sépias de um passado,
Scarboroug fair quente e bêbado,
Do ópio de amores tépidos
Marcados à contra-luz
Cor de cobre da carne
Acre e doce do agreste

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Arenga



Resolvi lhe dizer
Mas se você nem quiser saber
Eu não lhe falo nada
Deste meu desejo de lhe possuir
De corpo inteiro, amigo

Resolvi não lhe contar
Mas se você quiser ouvir
Então, lhe digo e ainda espalho
Que sou toda sua
E a semana inteira, amado

Imagem : Entrevero, de Carmem Salazar
A artista, numa fantástica intervenção no Trensurb, mostra os vários significados que podem estar contidos dentro de uma só palavra "entrevero": "entre", "ver", "o", e "o over reve o ver".

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Obra

Aos pouquinhos
Peça a peça sobre peças
A forma se faz
De ferro, suor e barro
Rumo à nuvem,
Fincada em solo e concreto.

Aos pedaços encaixáveis
Sobem verticais paredes
E sobem os buracos
Construídos pela ausência
De matéria sólida,
Erguem-se os vãos
Onde antes vão era o todo.

Ocre mosaico
Espera a maquiagem
De pó cinza amalgamado
Pelos calos em forma de mãos
E a cor derradeira
Enfeitando a paisagem
E tampando a visão.

Flama

Fênix de minhas brasas
Renova-se fêmea
Devorada em meu ardor
E salta solta
Garça suave de foco nas asas

Chora a lenha
Para o pouso da ave,
Arvora-se em seu ninho
E ressona leve
Iluminando a madrugada
Com o tição do sexo

Flutua o plasma
Gerado na fricção
Entre as paredes incólumes
De nosso quarto de queimar

Dia

No horizonte da visão
Desanuvia-se a manhã
Virgem dia
Madura vida

No zênite da divisão
A matina velha morre
Dando à sua luz
Tarde em modorra

Na boca gulosa da noite
A tarde suicida-se lenta
Alimentando a escuridão
Com suas muitas luzes

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vielas

Saber os cheiros e sabores que se espalham pelas ruas e nessas ruas seguir seu cheiro por entre bancas e passantes o rastro invisível que se espalha e confunde disseminando em todas as direções entre elas a que sigo em busca da fonte amarela de minha felicidade que é você com seu perfume e seu cheiro natural e seu olfato e seu tato e todos os demais sentidos até mesmo os desconhecidos ou apenas imaginados e suas costas quando não as toco e seus olhos quando não os vejo vendo o balconista da lanchonete que lhe traz cupuaçu ao leite e queijo coalho aquecido na chapa no meio da tarde tórrida de quase Equador acima de Capricórnio onde todo o zodíaco se cruza pelas ruas à sua frente menos eu que estou às costas no rastro do seu perfume amarelo como o Sol que arde sobre nós dois e os demais signos entrecruzados em nosso astral planificado nas ruas tortas como tortas são minha intenções de não perdê-la e não deixá-la escapar pelas vielas com sorvete na mão e sombrinha sobre os cabelos amarelos rescendentes a andiroba das praças sombreadas e guaraná do outro lado do país sobre o qual seus pés passeiam ou desfilam sendo seus passos nas vielas tortas como desfile de diva em tapetes vermelhos como as pétalas espalhadas por sob as copas que sombreiam as praças de onde vemos a papelaria escondida atrás das calçadas largas onde se arrastam no calor de arianos a piscianos e os demais chineses ou quaisquer que sejam os horóscopos que hão de teimar em nossa união mesmo que haja quem torça e aja contra o que não ocorrerá como não ocorrerá o fim dos tempos que os tempos não seguem a lógica dos relógios que teimam em fazer do tempo animal aprisionável e não somos separáveis já que somos prisioneiros de nós dois em dulcíssima cadena que se espalha pelas vielas ou avenidas ou praças ou calçadas calcadas em nossas solas que passeiam as minhas seguindo as suas por onde quer que elas vão e elas vão de lá para cá e de cá para mais aqui e daqui não partem depois de fazerem desse solo sua cidade como se nunca houvera o tempo de ter sido outra.

Guantánamo de uma tarde


Give Blood
Originally uploaded by Chris Brookes

Estrada longa, acidentada.
Poeira quente e as mucosas ardem.
Era tão necessário chegar, mudar tudo:
Agora, na lágrima presa,
Até o pensamento, congela.


Andar, apesar
Do medo, do estranhamento,
Do amor que, num repente, gora
Do olhar que se fragmenta.

E no silêncio de uma espera,
Pela porta de ferro, batida
Depois imóvel,
Um grito é partido ao meio,
Como se fosse sem querer,
Cortá-lo inteiro

E entre a escada e o muro,
- Guantánamo de uma tarde-
Grades! É proibido reclamar.
A liberdade pra tudo ser,
Antes de já, espera.

É preciso poder gritar.
Não é possível mais um erro
Será?

Duo Finito


Separation
Originally uploaded by Pensiero

Mal me viu
Eu te amei

Cheguei
Gostou

Chamei
Ficou

Gritei
Calou

Crispei
Rosnou em voz baixa

Tua boca, teus dedos
Tua pele, tuas pernas
Todo teu corpo
Deixou o meu
Acabou

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Toque


touch of pink, originally uploaded by framajo.

Tarde de lua nascida cedo

Meu olho cresce

Espera e roça

Tua pele no meu rastro

Veludo no céu azul marinho noite

Seda leve que ceda e amanhece

Cálida

Cronos Corte



Cortei o cabelo a navalha
Agora, minha história desfiada
Vê-se nua em pelo, no fio das horas,
Toda ela na minha cara
Explode meu perfil em camadas

Inteira, entalhada na fresta do presente,
Minha história é rua larga,
Via de mão dupla sem calçada

E cada passagem, cada camada
Passadas
Cabem no meio fio da face

A última década enrolada,
Pesa camuflada no batom desejo coral
Cobra pronta, aninhada no musgo do tempo,
No verde do muro e no côncavo da boca.
Cobra criada pra dar bote e beijo
Nos pés de um futuro que lateja


Música: Autumn Leaves / Cannonball Adderley with Miles Davis

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Ícaro Anda

Cego céu à frente
Pisa forte o lajedo
Pés na pedra e olho longe

A estrada é curva e longa
De desvios, pontes e aclives,
Descidas, pinguelas e túneis
Passa-se tudo passo a passo

Querer ver do alto a rota
É sonho de Ícaro plantado,
É vôo impossível nesse éter
Desejo que o chão atrai, não plana

Céu e solo se confundem
Na distância que a vida perde
E o sabor da poeira que fica
Dá o gosto de viver seguindo

Rocha

Rocha de pozinhos
Sólida perde pedras
Arrasta-se rolando
Deixa rastro e marcas

Rocha de pedrinhas
Dura perde pó
Na aspereza do contato
Com outras menos nobres

Rocha de pó e pedra
Esculpida não desgasta
Ganha forma, vira jóia,
Mostra a gema camuflada

No oco do granito
Surge a ponta de carbono
Brilho de forma bruta
Que a vida lapidará

Surge do calhau disforme
A duras penas e suor
Brilhante aliança eterna
Que nada há de quebrar.

Um gole de tinto


Minha boca se enche
Do cheiro da tua
E entre as peles,
A lua cheia vela, cálida
Minhas pétalas nas tuas carnes
Que desabrocham leves e tenras
Mas fingem dormir nas tuas têmporas,
Para depois murcharem mornas
Nas caves de nossos sonhos tintos

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lua na Madrugada

Entra sem timidez pela teia
Que limita a janela
Espalha-se amarela
Por sobre a cama que dorme
Ofusca o sono dos amantes
E os desperta na madrugada morna e quieta

Quietude e calor que somem
Ante o rasgo brilhante
Que vem do céu sobre lençóis
Atravessa a carne
Ebule os sangues
E ferve as carnes

Acaba um dia não no sono
Mas na madrugada alta
Que fecha o ciclo e abre as pernas
Que fecha a noite e abra a manhã
Que erige o corpo e afoga o macho

Celeritas



Te leio, luz no vácuo
Te quero constante
Sentimento em velocidade
Te espero, segredo atômico
Entre ondas sonoras
É saudade

Compulsão Diária, agosto de 2008

A distância entre as estrelas é muito grande. Professores de matemática e física explicaram que essa distância é medida através de equações. Então, resumindo, resolvi assim: E=mc2: Encantamento é igual a magia vezes celeritas ao quadrado e A=ic2: Arte é igual a imaginação vezes a velocidade da luz ao quadrado. Será que entendi?

Imagem: Fuerzabruta, De La Guarda, Daryl Roth Theater, NY, outubro de 2007

Fuerzabruta é um grupo de performers argentinos que ilustra o poema.

Pontyana



É o sol dentro de mim
No céu, o vermelho
Carne do corpo e das coisas
Sentinela do sensível,
Parto do ser bruto e do espírito selvagem,
É o visível dentro do invisível.
A escrita quebra o silêncio,
O pensamento interroga o impensado
E a cada plenitude, um vazio
No tapete tecido pela linguagem

Compulsão Diária, setembro de 2008 sobre a obra

Imagem: Barnett Newman - Vir Heroicus Sublimis - 1950, Museum of Modern Art, NY


Diante do nascer do sol, penso na leitura de O visível e o invisível, de Merleau-Ponty.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Antes, depois, agora e sempre



Eu sempre te quis
Antes de saber de mim
Das coisas minhas que tenho em ti

Essa ternura em carne viva
Do teu coração onde minha lua gira
Na tua sorte que me pega e convida

Para que minhas manhãs comecem nas tuas
E as tardes tuas e minhas
Caiam em nossa noite única

Eu sempre te quis
Depois de saber de ti,
Das coisas tuas que tens em mim

Esse desejo de amor de alma
Do meu corpo onde tua pele fica
Na minha sina que te segue e avisa

É teu meu presente que chega
Na rua da casa da tua esquina
Que fizemos minha e tua

Eu te quero agora
Mais ainda, por saber nossas
As coisas de cada um

Eu te quero sempre meu
Para que me faças tua
Sem deixar de sermos dois

Compulsão Diária, outubro de 2008

Aurora noir(e)

Entre as telhas, sereno
Jaz um resto de esconde-esconde
Que brinca de decifrar armadilhas primevas.
É quebra-cabeça impreciso que rói
A parede da noite de uma criança

As sombras são leões com jubas de folhas
Nos olhos de espanto azul franzido
O prazer da fera em plena fuga é ele.
Rei à espera na rede do terraço ancestral
A presença da sua ausência é caos

Na areia da vanguarda, vacas mansas flertam
Com seus heróis pescadores que espantam
As gaivotas vorazes do pensamento.
À luz da estrela da manhã, o primeiro cigarro
Aura noir(e) no alvorecer

Ela avança lãs enroladas nos tornozelos
A cabeça levemente inclinada para esquerda
Nas mãos o calor do café acorda a dúvida.
Não sabe o que mais teme ou deseja ser
Tentou ficar muito quieta



Compulsão Diária, novembro de 2008

Olhos vagos


Time of turbulence !
Originally uploaded by framajo.


Imóveis na tristeza,
Os olhos fingem
Interesses em negros vôos

Na pista de sua loucura
Decolam devaneios,
Vagos pesadelos
São levados na lava de sua melancolia

Alheio a tudo, colado no vazio
Ele descansa
Em duas mulheres:
Sua mãe e sua filha,
Sua serva e sua sina,
Cansadas e constrangidas
Bóiam no olhar dele
Mergulhado em pleno nada,

Não pode,
Não quer e não vê
A morte, nem a vida
 Tom Waits and Crystal Gayle - I Beg Your Pardon

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Vem

Vem todo comprazer
Sobre cada poro
Ser meu
Céu na pele

Vem quando eu menos quiser
E você mais transgredir

Vem, entra, sobra e forra
Meus pêlos com seus milagres,
Na roça dos seus cílios,
Faz minhas delícias vibrarem


Vem e pisca na minha língua,
Com sua voz rouca
Devassa meu peito


Depois, abre a trilha
Com seu sopro
Abraça minha lira, acha,
Vê nós dois na ponta da linha

E vai