quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vielas

Saber os cheiros e sabores que se espalham pelas ruas e nessas ruas seguir seu cheiro por entre bancas e passantes o rastro invisível que se espalha e confunde disseminando em todas as direções entre elas a que sigo em busca da fonte amarela de minha felicidade que é você com seu perfume e seu cheiro natural e seu olfato e seu tato e todos os demais sentidos até mesmo os desconhecidos ou apenas imaginados e suas costas quando não as toco e seus olhos quando não os vejo vendo o balconista da lanchonete que lhe traz cupuaçu ao leite e queijo coalho aquecido na chapa no meio da tarde tórrida de quase Equador acima de Capricórnio onde todo o zodíaco se cruza pelas ruas à sua frente menos eu que estou às costas no rastro do seu perfume amarelo como o Sol que arde sobre nós dois e os demais signos entrecruzados em nosso astral planificado nas ruas tortas como tortas são minha intenções de não perdê-la e não deixá-la escapar pelas vielas com sorvete na mão e sombrinha sobre os cabelos amarelos rescendentes a andiroba das praças sombreadas e guaraná do outro lado do país sobre o qual seus pés passeiam ou desfilam sendo seus passos nas vielas tortas como desfile de diva em tapetes vermelhos como as pétalas espalhadas por sob as copas que sombreiam as praças de onde vemos a papelaria escondida atrás das calçadas largas onde se arrastam no calor de arianos a piscianos e os demais chineses ou quaisquer que sejam os horóscopos que hão de teimar em nossa união mesmo que haja quem torça e aja contra o que não ocorrerá como não ocorrerá o fim dos tempos que os tempos não seguem a lógica dos relógios que teimam em fazer do tempo animal aprisionável e não somos separáveis já que somos prisioneiros de nós dois em dulcíssima cadena que se espalha pelas vielas ou avenidas ou praças ou calçadas calcadas em nossas solas que passeiam as minhas seguindo as suas por onde quer que elas vão e elas vão de lá para cá e de cá para mais aqui e daqui não partem depois de fazerem desse solo sua cidade como se nunca houvera o tempo de ter sido outra.

Um comentário:

Beatriz disse...

Como um Debret pós moderno, um flaneur século 21 vc olha a cidade e emociona o leitor, dando linha pra palavra voar: pagagaio de seda fina, tecido no tear da sua retina capaz de captar a beleza apesar do calor, da poeira, do tempo que passa incólume sobre nossos corpos. Vc é Walter Benjamin, também. Vielas é obra prima.