segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Chico

Ainda sinto sua barba
Áspera por fazer
Roçar meu rosto
No beijo de boa noite.

Sinto o cheiro do seu cigarro
No seu hálito gostoso
Do até amanhã,
O cheiro da sua boca.

Lembro a infância distante
Quando lhe via chegar
Montado na bicicleta branca,
Cansado, todo de verde.

Lembro das mãos gordas
Fazendo afago grosseiro
Em harmonia com sua voz,
Ralhando num carinho grosso.

Saudade da casinha
Cheia de todos nós
Esperando a luz se apagar
E ele acendendo o lampião.

Lembro dos lençóis brancos
Que nos escondiam no sono
Enquanto ele, sozinho,
Caminhava pela casa.

Lembro da cadeira de balanço,
As outras de espaguete plástico
Onde se sentava à noite
Ouvindo rádio ou estrelas.

Lembro das noites sem luz
E sua voz em serenata
Animando a lua e meus sonhos.

Meu pai, amor eterno,
Que saudade das conversas
Nunca trocadas, plenas,
Lotadas de carinho.

Seus olhos de lágrimas
De tanto bem-querer que tem
No seu silêncio de carícia
Por mim e pelos nossos.

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