segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cunhataí

Voam. Voam flores na aragem

E o tempo voa.



Voa infinitamente alto,

Tão alto que a vista não alcança.



Voa longe,

Voa cinco anos,

Cinco tão distantes-próximos anos

Que as pernas parecem pequenas

Para percorrê-los.



Voa alegre e único o tempo.

Vôo de guaynumby

Arrastando notícias

De um dia que não foi.



Voa o tempo guaracy-aba

Cabelos de sol,

Arrastando nos filhos da noite

(eu e tu)

Notícias de outro mundo,

Qualquer mundo,

Onde o amor é alegrria

Com os amores e alegrias

De todo o mundo

Na ponta do longo bico.



Vôo eu em teus brincos

Sendo tu flor

E eu teu guaynumby,

Quem sabe. guynamby?



Vôo festivo de alegre ave

Fazendo curvas e dribles

No espaço de nós dois.



Tremo, tremo nesse espaço

Único e inacabável,

Infinito espaço

Que separa a mim de ti.



Sugo nas pétalas do ar

Teu perfume persistente

Em busca do âmago,

Da essência, do átomo reluzente

Que forma tua estrutura

Única e inigualável

Das flores mais primeiras.



Vim do ipê em que reinavas

À procura da juçara

Onde és majestade

Única e insuperável

E recebo paãs no peito,

Doces e ardentes

Dos teus olhos longínquos

Enquanto não chego

E não sei se chegarei.



Enquanto não chego

Te trago presa,

Guardada,

Em uru, nhambi, patiguá, patuá, moco...



Sei lá o quê,

Dentro do peito.



Canto agora minha marantuba,

Minha paranduba,

Tuxaba inesgotável,

Moacara sem fim,

Nhengaçara inacabável

De braços que tu queiras para tua cintura,

O amor.



Teu peito de ubiratã

Rejeita meus afagos

Mas faço toryba

Aos teus acenos.



Monto minha moroca

Longe dos teus rios

E te observo

Do outro lado do pará,

Vestes nas mãos,

Elevando minha apem

Até às nuvens.



Tapuia que sou

Me refugio nos matos

E ipon-juca em tua defesa,

Quem ousa te olhar.



Cejy brilha no céu

E tu na terra,

Enquanto eu morto na mata

Sonho com o que vi,

E vejo e sonho

E espero e guardo.



Te encho de canitares

Nas noites mal dormidas,

Te enfeito de contas,

Te coloro de penas

E... pena que seja sonho.



A-por-u

Me comporto de dia.



A- poto-tim à noite.



Pelos teus cabelos percebo

Que tua tribo é outra

E tento me converter.



Sou marabá caçador

Não de onça ou jaguares,

De ava-canoeiros, quatis,

Surucucus, mucuri,

Honras ou malvadezas.



Sou marabá caçador

Da cunhã filha da lua,

Dona da noite,

De cunhataí.



Sou caraíba perdido

Na busca de quem sou

No corpo ignorante

Do amor que tenho.



Sou ajurrendy-pira

De cojy nascido,

De Tupã gerado,

Membira de Ceci

E vou morrer de novo

No pará imenso

De sua boca.

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