segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fome

Triste é o homem que não come

E a raiva da fome pelo mundo,

O minifúndio,

A morte do índio,

A peste da pobreza.

Triste é o leite derramado

E a carne maltratada

Que não alimenta,

Que fermenta.

É a lágrima de quem lamenta.

Triste é o choro noturno

Da criança sem mingau,

A ira do homem mau

Que não chora,

Que ignora o choro do neném.

Trsite é a árvore que cai

E a panela que é só fundo,

É o prato vazio, imundo,

Com tanto verme faminto

Passeando pelas ruas.

Triste é o bolso vazio

E o pão sem manteiga.

É o sacrifício da gueixa

Que dá-se por um tostão,

que rasteja sem queixa,

Que lambe o chão.

Triste é o beco escuro, o gueto,

Onde fome é pintura, é ar,

Onde fome é estrela

E fome é o que se come.

Triste é o não do rico

Ao pobre que, num sussurro,

Pede sem ter orgulho

Já que orgulho é necessidade,

É vazio, é cabresto,

É rédea de cavalo magro.

Triste é a chuva no couro

Sem coberta e sem capa.

É porta aberta sem teto,

É o choro do feto

Da mulher que espera.

Nenhum comentário: