Triste é o homem que não come
E a raiva da fome pelo mundo,
O minifúndio,
A morte do índio,
A peste da pobreza.
Triste é o leite derramado
E a carne maltratada
Que não alimenta,
Que fermenta.
É a lágrima de quem lamenta.
Triste é o choro noturno
Da criança sem mingau,
A ira do homem mau
Que não chora,
Que ignora o choro do neném.
Trsite é a árvore que cai
E a panela que é só fundo,
É o prato vazio, imundo,
Com tanto verme faminto
Passeando pelas ruas.
Triste é o bolso vazio
E o pão sem manteiga.
É o sacrifício da gueixa
Que dá-se por um tostão,
que rasteja sem queixa,
Que lambe o chão.
Triste é o beco escuro, o gueto,
Onde fome é pintura, é ar,
Onde fome é estrela
E fome é o que se come.
Triste é o não do rico
Ao pobre que, num sussurro,
Pede sem ter orgulho
Já que orgulho é necessidade,
É vazio, é cabresto,
É rédea de cavalo magro.
Triste é a chuva no couro
Sem coberta e sem capa.
É porta aberta sem teto,
É o choro do feto
Da mulher que espera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário