As aranhas raquíticas e pernudas
passeiam pelas paredes pequenas e brancas
do meu quarto de dormir.
Esse quarto é meu lar
Vinte livros, a mesa e a rede.
As baratas me observam
e se assustam com meu olhar.
Os sapatos negros
apontam seu bico afiado
para a parede que os limita.
No teto a lâmpada amarelada
ilumina o micro-universo
com sobras desnecessáias de luz.
Lá fora nada me diz respeito
como o nada que me pertence,
mundo que não é meu.
Meu dia se resume às noites
sentado à escrivaninha
com montanhas de papéis
que me preenchem os sonhos diurnos.
Papéis que não são meus,
dívidas que não são minha
e que nada me dizem
senão da pobreza dos homens
e a riqueza dos bancos.
Eis meu mundinho
cercado de paredes brancas,
uma carteira de cigarros,
uma rede e um lençol,
papel e caneta
e a lembrança distante dos amigos
a quem e por quem escrevo.
Vidinha, vidinha,
cercada de desinteresses.
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