segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Vielas e Boulevard

Sarrapilheira de lençol
Banguela que não mastiga
Sexo livre sob o concreto
De viadutos e marquises


Play-ground de risco e asfalto
Onde pernas magrelas se divertem
No pátio árido da escola,
Vaga uma infância fantasma
Estômagos saciados pela falta
Dispensam a merenda rala


Mães buscam seus filhos na madrugada
Atravessam a angústia de ônibus ou a pé, outras vão de carro
Mulheres de todas as classes desta sociedade cindida
Lutam contra as garras narcóticas.
Duras combatentes em fila dupla dessa guerra cooptada
No palco sórdido de sua humilhada maternidade
Diante dos soldados inimigos espalhados na rua ao lado


Banho nas fontes putrefatas
Peles tratadas a cerol e cabelos secos ao relento.
Tez corada de sol e calor, boca de menina pintada de carmim
Cóccix de mulher empinado pelo corte da calça jeans
Pés nos scarpins de segunda mão
Flanam pelo boulervard
Em busca de alguns trocados
Despertam desejos
E pedem olhos brilhantes que as vejam,
Por toda a tarde


Nas ruas interceptadas de nossas vidas
Nossos sangues se misturam.
Queres o que quero?
Tua luta é a minha?
Na sanha de nossos dias
Teus medos são os meus?
Nossos filhos convivem nas vielas
Onde os perigos que os escolhem
Arrebentam nossas noites
Estilhaçam nossas almas,
Destroem seus pensamentos precoces
Unem sentimentos atrozes, impõem cumplicidades efêmeras
Sem podermos desviar, recolhemos restos de nossas crias
Sem podermos desistir, alimentamos nossos algozes,
Imploramos aos nossos homens
Confrontamos o poder, não vencemos,
Continuamos ...

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