domingo, 14 de junho de 2009

Ressaca




Meu olho corre*
Fato e foto
Nos grafos dessa luz
Que encantam meu afeto
Último ístmo
De onde parto e naufrago
No estribilho
- realismo é arte ultrapassada -
Sussurado por desconstrutivismos
Agarrados no costão
Lavado pela maré que vaza

À margem dessa trilha,
Vejo-me cindida,
Sargaço sem mar
Bóio em jogos,
Correntes gramaticais,
Coberta por nuvem
Carregada de signos,
significantes cinzas,
Sinais sem sujeito

Amanheço em solidão afásica,
Desnaturada, afundo
Versos e poemas na ponta dos remos
E a língua em aclive, gagueja
Se poesia é a liberdade
Da minha linguagem
Por que escrevo com medo de errar?

Erguem-se abrigos, casebres pós-modernos
Onde vivo solta à beira de abismos
Presa, por um fio, nas algas narrativas
Entrevistas como dejetos
E experimento prazer na falta de ar

Diante da perda de referenciais,
Afogo, no vórtice das calamidades,
Rima, ritmo, métrica, tema
E os leitores desamparados
Que me acusam.
Um diz ser o excluído
Do umbigo com que escrevo
Outra reclama ver prosa
Nas imagens - meu desejo de poema

Sem piedade, cometo heresias.
Quebro-me para ser capaz de andar
Sobre júbilo múltiplo
Pós - tudo, aguerrida
Tropeço em Barthes e Derrida,
Chuto Foucault
E adeus, Delleuze

Minha nostalgia - Âncora e brecha -,
Resgata-me. Nado pelo meio,
Atavesso a ressaca
De olho na palavra encarnada,
Falo em silêncio,
Agarro-me à letra,
Alcanço o porto sem cais
Minha única saída



Imagem: Foto de Marco Antonio Cavalcanti - publicada em O Globo Online
*Fui ler Água e Sal e voltei ardida pelo soneto e pela imagem,
culpa do Henrique que escreve tão bem.


₢ Beatriz M. Moura
Compulsão Diaria
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