domingo, 21 de junho de 2009

Sinai(s)

A flor de cacto
Púrpura sobre espinho,
Aflora no deserto
Pétalas temporais
Em hora morna
Quando o sol cai

Ecos és-não-és
Empurram um homem
Fora de sua tenda de pele
Para cumprir seu rito
Dentro da própria túnica

Ele se dobra em promessas,
Ora sobre dunas
E mônadas crédulas
Onde sustenta sua fé
Retinta em pergaminhos

Submete mãos e pernas nômades
Ao final de mais um dia
Ifértil
Náufrago
Orfão sem oásis

Enquanto espalha sua raiva,
Engole vento e angústia

Depois desmaia
Nos seios de areia
E resta inerte
A ceu aberto

Imagem: Oracion en las dunas
Upload feito originalmente por
pixinalasidra

₢ Beatriz M. Moura
Compulsão Diaria
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Filhos
A meu filho Marcos


Daqui escutei
quando eles
chegaram rindo
e correndo
entraram
na sala
e logo
invadiram também
o escritório
(onde eu trabalhava)
num alvoroço
e rindo e correndo
se foram
com sua alegria
se foram
Só então
me perguntei
por que
não lhes dera
maior
atenção
se há tantos
e tantos
anos
não os via crianças
já que
agora
estão os três
com mais
de trinta anos.




Antes do Nome, Adélia Prado


Não me importa a palavra, esta corriqueira.

Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,

os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,

o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível

muleta que me apóia.

Quem entender a linguagem entende Deus

cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.

A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,

foi inventada para ser calada.

Em momentos de graça, infreqüentíssimos,

se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.

Puro susto e terror.

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