domingo, 5 de dezembro de 2010

Vida Campari

Veneno lilás em copo plástico

A nobreza da cicuta

A pobreza do moderno

 

Arde na garganta e aquece dentro

Arde nos poros

Mostra cancelas fechadas atrás

 

A vida flui

Some pelos poros abertos

Cores avivam-se

 

Poção ardente

Campari com soda

Domingo

 

Veneno amargo

Rubro e frio

Que o sol aquece

O dia renasce à tarde

 

Muitos mais noites virão

E verão o verão arder

Na aquarela espalhada

 

Renasce o sangue

A semana vem e vai pra vir

A vida vibra

 

©Marcos Pontes

sábado, 4 de dezembro de 2010

Áspero

No lençol de terra vermelha e quente

Descansa o corpo nu

Homem pai menino filho

De alguém que não sabe

Que o corpo nu descansa

Sobre o lençol vermelho e áspero

De terra e sangue

Do corpo nu do homem

Filho marido amante e vermelho

Áspero corpo sobre o lençol de terra

E a família ainda não sabe

Se foi de homem traído

Por pedrinhas amarelas e podres

Ou roubo mal sucedido

Apenas buracos vermelhos que não irupem mais

Espalhando o corpo liquefeito

Sobre o lençol áspero de terra

Os fios da cabeça tremulam como vivos

Pela brisa que amaina o fervor da manhã áspera

Que envolve o corpo nu perfurado

Olhando os urubus sem vê-los

 

©Marcos Pontes