Um grito rouco se perde
Nas paredes do meu prédio.
Não é meu, seu ou de alguém,
Mas do madeirame velho,
Do tijolo e da argamassa,
Espremidos e unidos num liame
Que dá a eles natureza e forma.
No casamento desses três
Faz-se um conjunto de gaiolas
De pássaros sem asas que não cantam,
Não voam, não encantam e nem adornam.
Pássaros disformes e feiosos,
Eu, meus vizinhos e as visitas,
Sujeitinhos sem graça, grossos,
Sem utilidade para o prédio e o mundo,
Apenas para si e seus umbigos.
Pássaros descartáveis, olvidáveis,
Que deixam choro quando partem
E choram quando os deixam ficar,
Bichinhos que passam no tempo
E deixam marcas na superfície,
Pouco ou nada no miolo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário