quarta-feira, 6 de maio de 2009

Nós

Você me deu um nome

Que sempre quis seu!

Minha cachorra fox-paulistinha,

Você chamou de boy

Até o dia em que ela se perdeu

Para me consolar,

Leu Monteiro Lobato, com  voz rouca,

Me apresentou Jorge Amado,

Me deu Lord -  um irlandês  peludo

Me deitou num remanso,

Disse que Proust era um chato

E convenceu o dog : era ele a minha babá

Você me educou debaixo de sol,

Estimulou alpinismo,

Mostrou sua paixão pela esgrima

Suas espadas encostadas na máscara de luta,

Espreitando no fundo do armário ,

Foram meu horror bem cedo

Eu sempre quis cama, lua,

O frio das manhãs sob as cobertas.

Quando nos elogiávamos, desconfio,

Ambas disfarçávamos.

Você pisava a praia toda, todas as tardes

E no mar jamais entrava.

Eu adorava uma onda  salgada e nua de areia

Escorpioa, signo de água, eu fluía

Você terra taurina, represava.

Opostas complementares, duas insanas,

Adorávamos nos provocar

Cabelos branquíssimos,

Cigarros amarelando seus dedos,

Pés descalços, você morava no meio do mato.

Eu, no asfalto, rodeada de portas e sapatos,

Encastelava-me no décimo sétimo andar

Mas, naquela madrugadinha gelada em Sampa,

Você tossiu fundo.

Seu olhar de menina renasceu no meu colo,

Há muito tempo sem caber mais no seu.

Quando nos entendemos,

Você morreu



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Um comentário:

Beatriz disse...

Gostosas rememorações e poema emotivo sem pieguice, bom humor que é a melhor maneira de lembrar quem se ama.