segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sem Querer


Sem que eu peça
Teu rosto passeia fora da taça
Desloca o ar, sobressalta a boca
Põe minha certeza de ponta-cabeça

Sem que eu espere
Estremeço quando lembro
Do olhar vazio, do canto sem enlevo
Do cheiro de medo

Sem que eu impeça
Temo que a felicidade se mexa
Fuja ao menor movimento
Antes que eu te esqueça

Sem que eu queira
Soluço, enjôo, ciclo
Parto, espasmo, abraço,
Beijo, depois fico imóvel em mim

Sem pedir, duvido
Sem impedir, aconteço
Sem esperar, vacilo
Sem querer, termino

Imagem: Cruel, Deborah Colker

5 comentários:

Anônimo disse...

Eis o poder daquilo que é capaz de pôr certezas de ponta cabeça...


Lindo texto, querida

Anônimo disse...

Todas as querências sem rumo
De ponta cabeça
sentença por querer demais

lindo dia flor
beijos

Anônimo disse...

É, é uma agonia, uma lâmina sedutora luzindo a manhã.

De forma geral, acho um pouco seco, simples. Me desagrada o fluxo de palavras na quarta estrofe, assim como a construção da última. O último verso, especialmente, pelo caráter duplo (contextualizado e metatexto) não me pegou. Penso que são artifícios simples, que não exprimem a força que a poesia tem. Há sentimento latente de desespero, espera, receio. As três primeiras estrofes conduzem o leitor pela mão, com versos bons como "teu rosto passeia fora da taça". O sentimento pede por uma construção um pouquinho mais lapidada no fim, penso.

Sobre o desagrado acerca do último verso da última estrofe, explico: o metatexto vai contra a pureza do sentimento, uma vez que o eu-lírico se desprende da sua voz para a voz do poeta, fazendo com que a impressão seja de que há uma negligência com o próprio sentimento da personagem em prol de uma sagacidade (uma sacada) na construção.

De forma geral, gosto mais do conteúdo do que do odre.

Beijo, Bea!

Anônimo disse...

Eu gosto bastante, Béa. Tenho um pouco das ressalvas do Victor, mas é um poema que brilhou pra mim exatamente em sua simplicidade. Não há grandes imagens, mas traz a força daquilo feito para ser dito, uma certa práxis poética, viver segundo a lógica do delírio. Gosto muito! Beijos, querida

Anônimo disse...

Se a intenção era emocionar e fazer o leitor partilhar do temor da perda, bingo!
A terceira estrofe pega na veia:
Sem que eu impeça/ Temo que a felicidade se mexa/ Fuja ao menor movimento/ Antes que eu te esqueça.

Parabéns, poeta.