quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Guaiamum, nunca mais

Sobre a mesa os caranguejos

E no meu peito a estranheza

- lama do mangue deles –

Presa na arrogância da minha fala

Tragada por ímpetos de poder

E direito sobre tempos e terrenos

Queria ser a morena nativa,

Encharcada de jeito e graça,

Sedução e charme para o olhar dos homens

Essa mulher que seduz, conquista porque sabe

Rasgar a casca, mastigar a carne, chupar as patas,

Quebrar e devorar a couraça

Depois, engolir o bicho inteiro

Queria ser a rainha

Na última casa do tabuleiro

Na beira do bairro boêmio

Ser a estrela guia da Banda Delírius

De estrangeira deslumbrada com o rei

Negro que me comia

Enquanto eu, sem destreza, sujava uma noite inteira

Sufocada pela malícia dos olhos dele,

Chamei a minha faxineira

Ela veio divertida na sua morenice,

Viu meus vestido esquisito, de griffe

Meu desamparo, meu olhar

Bêbado e cego de medo

Sorriu, trouxe um pano de chita,

Talco, perfume, pó e pente,

Elogiou meu cabelo e a brancura da pele,

Preparou pro meu ego um bife com fritas

E brindamos com vinho tinto.

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