Sobre a mesa os caranguejos
E no meu peito a estranheza
- lama do mangue deles –
Presa na arrogância da minha fala
Tragada por ímpetos de poder
E direito sobre tempos e terrenos
Queria ser a morena nativa,
Encharcada de jeito e graça,
Sedução e charme para o olhar dos homens
Essa mulher que seduz, conquista porque sabe
Rasgar a casca, mastigar a carne, chupar as patas,
Quebrar e devorar a couraça
Depois, engolir o bicho inteiro
Queria ser a rainha
Na última casa do tabuleiro
Na beira do bairro boêmio
Ser a estrela guia da Banda Delírius
De estrangeira deslumbrada com o rei
Negro que me comia
Enquanto eu, sem destreza, sujava uma noite inteira
Sufocada pela malícia dos olhos dele,
Chamei a minha faxineira
Ela veio divertida na sua morenice,
Viu meus vestido esquisito, de griffe
Meu desamparo, meu olhar
Bêbado e cego de medo
Sorriu, trouxe um pano de chita,
Talco, perfume, pó e pente,
Elogiou meu cabelo e a brancura da pele,
Preparou pro meu ego um bife com fritas
E brindamos com vinho tinto.
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