Toma a cama e as ruas
Sobe pelas pernas e paredes
Se encastela nas cãs e nas torres
Veste-se de anáguas e armaduras
Sacia-se nas fontes e nas coxas
Afoga-se nas salivas e nos mares
E renasce.
Alimenta-se nos banquetes e latrinas
Salta dias e muros
Beija bocas e solos
Lambe pedras e colos
Arranha peles e riscos
Escreve cartas e destinos
Queima cartas e a si
E renasce.
Apela aos santos e carrascos
Enamora as fêmeas e as carteiras
Celebra nascimentos e loterias
Joga sortes e desejos
Pulsa dentro e sobre navalhas
Olha olhos e nucas
Rasga entranhas e papéis
Enforca-se em vigas e labutas
E renasce.
Aleija pernas e cérebros
Casa casais e umbigos
Banha-se em banheiras e campos
Colhe flores e tempestades
Corre em ruas e relógios
Deita-se em redes e berço esplêndido
Descasca frutas e mágoas
Perdoa dívidas e dúvidas
Cobra dívidas e incertezas
Morre em si e esquece
Até não mais renascer.
₢Marcos Pontes

2 comentários:
Poema duro e belo. Forte. Mostra o efêmero, no espelho dos dias. Realidade crua que só tem alívio qdo "ele" chega e inaugura outra vez,
mais uma noite, antes do próximo dia-a-dia.
"Colhe flores e tempestades", que lindo isso...
Ei Marcos, vim aqui retribuir a sua delicadeza na entevista da Vanessa da sexta feira e curiosa pelo que li, andamos pelos mesmos lugares em tempos diferentes?? como assim?? vc ja esteve em Manaus?? morou em vila militar?? aaahhh, me conta por favor! :)
Boa semana e tudo de bom
Postar um comentário